Um Dia Flamenco
Não é da razão vestir o frio contraste do belo, nem limitar-se às nuances que aprisionam o olhar maravilhado. Farei diferente quando meu sapatear impuro discordar do mundo, mas manterei um semblante firme para seus palcos iluminados, de onde abraçarei as almas livres.
Dançar flamenco é colidir os sentidos no limite pulsante e rival do ritmo. É habitar o entretempo do compasso, não como quem o domina, mas como quem se entrega à sua força indomável. Ter a alma como corpo e os gestos como voz. Domar a obra bruta do mármore sinestésico com um golpe preciso, uma explosão calculada, um instante de ruptura.
E então, no ímpeto de um giro ou na suspensão de um olhar, o vermelho sangue da paixão se revela no tablado. Intenso, volátil, quase indócil. A arte é esse duelo entre contenção e abandono, entre estrutura e arrebatamento. E no final, quando os pés tocarem a madeira com o último eco, talvez reste apenas o silêncio – e a certeza de que o fogo dançou comigo.
Carlos Costa França
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