ASAS DA MONTANHA





 




 
 
Um dia frio e chuvoso de domingo traz à feitura do texto uma certa elegância e refino aos sentidos, e sem esforço, esse dia  invernal nos convida minimamente à reflexão, introspecção e avaliação, uma  certa transcendência dos dias mais agitados. Mas vamos ao texto!

Na semana que se passou, por um programa da Prefeitura de Gramado, Rio Grande do Sul, da área de saúde, chamado DESPERTAR, fomos conhecer aqui em Gramado um local de natureza que se abre num vale e montanhas ao redor, muito lindo.

No dia estava muito cansado, e o percurso pareceu bem mais longo do que realmente era. Já tinha feito aquele caminho antes, pelo menos umas três vezes, e em das oportunidades à noite. Ocasião que me encontrava conveniente e interessantemente perdido por aquelas estradas.

Dessa vez, por esse programa da prefeitura íamos para um lugar chamado Olivas de Gramado. Em dado momento enquanto estava no ônibus, refleti sobre a própria palavra despertar. “Esse é um termo bastante apropriado, pois tenho despertado para várias coisas!”, pensei, e lembrei de uma certa fala do livro “Duna”, de Frank Herbert. Na realidade,   fazia pouco tempo que havia assistido a nova adaptação de “Duna”, do ano de 2021, dirigido por Denis Villeneuve. Por sinal, recomendo por demais.

É o seguinte trecho, "O adormecido deve despertar",  inclusive tal fala  aparece na primeira adaptação cinematográfica de “Duna” 1984, dirigido por David Lynch. Também recomendo por demais. Essa foi a frase proferida pelo personagem Leto Atreides para o filho Paul, e se tornou um lema famoso e algo da cultura pop dessa narrativa de “Duna”.

A frase seguramente  trata da ideia central do livro. É um apelo à consciência espiritual, uma busca por compreensão mais profunda e percepção além das aparências superficiais. Ela convida o indivíduo a assumir responsabilidade por seu destino, agir de acordo com sua vontade e discernimento, e explorar sua verdadeira natureza interior.

É uma jornada de autodescoberta  como ser humano e da vida intrapsíquica e espiritual, em que o indivíduo desperta para seu potencial e encontra o poder de transformar a si mesmo e o mundo ao seu redor.

Nesse embalo, é possível ainda tecer uma referência mais filosófica nesse construir do conhecimento e autoconhecimento. Kant, não fala em despertar, mas  argumenta que o conhecimento não é meramente resultado das percepções sensíveis, dos sentidos, mas também depende das estruturas conceituais da mente, categorias, como tempo, espaço, causa e efeito, substância, entre outros.

E ele enfatiza que somos agentes racionais livres, capazes de agir de acordo com princípios morais autônomos. Essa autonomia moral e responsabilidade individual são fundamentais para a busca da verdade, pois exigem que examinemos e questionemos as bases de nosso conhecimento e crenças. Sendo fundamental essa disposição para o questionamento, a tal ponto que seria preferível "colecionar incertezas".

O ônibus seguia bem lentamente serpenteando pelo caminho, e de modo sonolento subia as ladeiras, por vezes, fazendo curvas inclementes e as vencendo como um velho dragão da montanha. A tarde não tinha apreço por nossas necessidades e avançava mais que o ônibus para seu final e apoteose. Não havia desconforto propriamente dito, mas chegar ao local se impunha sobremaneira às nossas consciências. Algo demasiadamente humano.

Chegamos! E sem saber o que nos aguardava exatamente para aquele fim de tarde, talvez alguma palestra ou dinâmica, fomos informados que era um tempo livre para explorar o local. Uma pausa sem pressa! Não entendi o significado daquilo de imediato,  dito de outro modo, o que aquilo significava exatamente para mim pelo menos. Tinha que descobrir. Estava cansado, e o cansaço diminui nossas percepções.

Fomos recepcionados com um lanche sob o teto de árvores na orla de um bosque. O que foi excelente, deu mais energia. Dali resolvi explorar o bosque e seus labirintos. E fui fazendo uma espécie de censo estético de árvores e raízes à medida que me aprofundava naquela mata. E refletia mais ou menos isso em meu percorrer aleatório:

“Os  sonhos mergulham no enigma da passagem do tempo e transcendem os limites do destino, algo que pertence inteiramente a nós. Acima do dossel de galhos e folhas deste bosque nesta montanha, apenas somos testemunhas da revelação da grandiosidade que nos rodeia.

E talvez como lição, devemos nos lembrar que são  as árvores mais altas que corajosamente desafiam os ventos mais impetuosos. Mesmo diante de desafios intimidadores e desanimadores, é importante recordar que as coisas  boas da vida não vêm facilmente. Portanto, ao alcançar marcos significativos, é essencial sentir orgulho de tudo que foi conquistado até o momento.

À medida que os anos avançam, essas árvores jamais perdem de vista suas raízes que nutrem a força inabalável que flui através de seus galhos e folhas, ali estendendo-se em busca do céu. Se a cada ano que se passa, este período nos brindar com a alegria de abraçar plenamente a vida e mergulhar na essência mais profunda do nosso ser, estamos realizados.

Que cada passo então seja uma dança sincera, em harmonia com o pulsar da vida, e que, ao final, possamos olhar para trás com gratidão, sabendo que vivemos intensamente, abraçamos nossos sonhos e nos tornamos quem verdadeiramente somos. É isso. E isso é muito. Tudo.”

Nesse momento, vem das profundas da mata um grupo de aventureiros dessa proposta e partilhamos algumas pequenas vivências,  descobertas, possibilidades e caminhos. Talvez como nossos ancestrais na savana africana. Então me referi que continuaria naquela direção de onde vieram, “ ainda iria percorrer caminhos”.

Um dos membros desse grupo de nobres aventureiros, o Milton, colega psicólogo, verbalizou do que parecia o centro daquele bosque, portanto um "axis mundi", um lugar de relevância simbólica, o seguinte: “Hum, percorrer caminhos, isso soa como algo profundo!”.

E como sinos que tocam distantes,  porém vibrando o tempo e o momento de signos e sentidos, aquilo domesticou parte das minhas distrações e preocupações gerais. Assim atinei que  de fato era importante fazer o exercício de forma mais imersa no entorno, com a alma e o coração juntos.

Como um apreciador de Fernando Pessoa, sabia de uma poesia para o momento, mas não me lembrava exatamente qual.  Gosto muitíssimo de Fernando Pessoa, pois ele sempre traz algo de um quê existencial. A poesia descobri depois.

 

 

Caminho

Caminhante, são teus rastros

o caminho e nada mais;

caminhante, não há caminho,

faz-se caminho ao andar.

 

Ao andar se faz caminho,

e ao olhar para trás

vê-se a trilha que nunca

se há de voltar a pisar.

Caminhante, não há caminho,

só estelas no mar.

 

Fernando Pessoa

 

Bem, essa poesia fala sobre a ideia de que o caminho se constrói ao caminhar. Claro, é uma metáfora sobre a jornada da existência. Em que o encontro com pessoas, os eventos da vida e as nossas escolhas vão entrelaçando o tecido da nossa própria história. Em cada passo dado cria o próprio caminho e, ao olhar para trás, vê-se a trilha que nunca mais será percorrida.

Assim fui percorrendo os caminhos por aquelas trilhas de mata, sob aquele teto de galhos e folhas e entrevendo vales e montanhas. Devo dizer, que nem todos os caminhos internos foram agradáveis, férteis ou salutares. Aliás, alguns muito chatos, como terminar o Imposto de Renda. Mas precisamos enfrentar todos eles com coragem.

 Afinal, “não há caminho, só estelas no mar,” estelas são esses rastros que os navios deixam  no mar,  signo de que tudo é transitório e efêmero.

Num dado momento, cheguei na orla lateral do bosque, pelo menos assim nomeei. E lá que encontrei Jeferson, nosso secretário de Saúde, que de imediato deteve-se de bom grado para me explanar algo daquela região e lugar, mais ou menos nestas palavras:

“Carlos, Carlos, esse lugar (o parque ali) nem sempre foi assim, já modificaram bastante da última vez que vim por aqui. Mas está muito bom. Aqui é muito bonito, (lugar geográfico) incrível. Como é bom estar na natureza e fazer esse movimento enquanto seres humanos. Precisamos disso, faz bem.” E seguiu, “você já viu o mirante que existe logo ali? Tem uma paisagem e uma vista fantástica!”

Ele se embrenhou todo animado no bosque novamente,  e assim fui conhecer o tal mirante, que realmente tinha uma vista deslumbrante. E lá vislumbrei entre o negro das paredes montanhosas, porções brancas, e o pensamento, “puxa, realmente estamos envolta de montanhas”, e aquilo tinha um significado muito particular, que tinha como endereço uma jornada dentro de minha vida literária.

E naquelas partes brancas,  imaginei “Asas da Montanha”, que resultaram inclusive no  título deste texto. E pensei mais, “aqui (o tal mirante) seria um ótimo lugar para uma pintura ao ar livre”.

Mas não era só isso. Estava fazendo uma pintura, óleo sobre tela, com a temática de montanha, como símbolo de um convite para um evento cultural no exterior com o meu livro, O ANJO E O ALQUIMISTA. O lugar fica entre os Alpes suíços, e se chama o Principado de Liechtenstein. A própria história como o livro surgiu é interessantíssima, mas não contarei aqui.

Como sempre digo, meus livros guardem certa independência em relação as suas continuações, mas será uma quadrilogia, e uma das narrativas se passará justamente em Gramado, o segundo livro; outra em Itapetinga, minha cidade natal, o terceiro livro, e o último livro em Dairy Valley, hoje Cerritos, Califórnia. Tudo tem uma ligação, mas vou falar da que iniciou o romance.

Depois de percorrer mais alguns caminhos naquele bosque, voltei para civilização, por assim dizer, pensando no meu livro, montanhas e pintura, e preocupado com um material que ainda teria que enviar através do meu filho na Europa, que aliás o tinha cobrado quando ainda estava no ônibus a caminho do parque. Pois o evento será em 17 de junho em Triesen, no Gasometer Kulturzentrum  em Liechtenstein, e não daria tempo de chegar se enviasse pelos correios do Brasil.

E ali pensava em me dedicar a terminar a pintura e em seus aspectos imagéticos. Talvez aquelas montanhas me inspirassem. Detalhe importante, Liechtenstein e Itapetinga, ambas significam, Pedra Branca. E na pintura estou destacando uma montanha com esse aspecto esbranquiçado.

Para minha surpresa, em algum momento o sistema de som do local, que tocava música eletrônica, parou para dar algumas informações e mencionou que um daqueles locais era conhecido como Pedra Branca.  Fiquei tão exultante, que nem sei o que de fato tinha sido dito, apenas sei que tinha ouvido “Pedra Branca”. E pensei “essas coisas só acontecem comigo!”.  

Claro, foi uma interjeição, de forma alguma isso é uma verdade. Tal sincronicidade é "alguma coisa do absoluto", acontece com todos.

Mas do que trata a obra, um alquimista do século XVIII nascido em Liechtenstein, necessita encontrar sua contrapartida feminina, que morrera em seu tempo, no primeiro retorno de Saturno, entre 29 e 30 anos, ciclo astrológico que fala da plena encarnação, maturidade. Tristemente ele não conseguiu salvar a mulher, pois a pedra filosofal ainda não estava pronta àquela altura.

Muitos anos depois, recebe a visita de um anjo, anunciando que ele ainda teria uma missão, resgatar a pedra do aniquilamento, um produto alquímico degenerado e procurar sua contrapartida feminina em outra vida, no futuro.    Ele avança no tempo sem possibilidade de retornar e consegue dessa vez milagrosamente salvar a mulher nessa outra vida de um câncer, “coincidentemente” entre 29 e 30, no retorno de Saturno dessa outra vida.

Vou colocar alguns trechos aqui para o livro se autoexplicar, e por outro lado, terá afinidade com o final deste texto, assim o coloco em perspectiva:

“Há algum tempo atingira a suficiente sobre a sagrada ciência, e aprendera da melhor forma, com o sabor dos que amavam a Arte por ela mesma. E a última descoberta que fez o deixou maravilhado, por conter um misto de simplicidade e completude. Percebeu que o sol do mundo nascia dentro do seu ser e seu ser dentro do sol do mundo. Não havia mais tanta diferença entre eles, somente a força das aparências que se mantinham manifestas e atuantes nesta realidade do mundo. Ele havia completado a obra.

               Então um ser angelical feito de matéria sublime e silente veio até ele.

               Não houve uma surpresa propriamente dita, pois ele sempre sentira a presença desses seres, embora nunca os tivesse visto. O alquimista correu rapidamente os olhos pelo ambiente, observando o efeito das alvas asas do ser angélico que se estenderam magníficas e perfeitamente simétricas, produzindo um brilho incomum por todo lugar — algo que jamais havia sequer imaginado. Ele ficou admirando aquilo por um tempo que não soube medir e sentiu também uma lufada de ar quente e agradável lhe tocar o rosto, enquanto um perfume indescritível tomava todo o ambiente. Um misto de devoção e respeito tocou seu coração.”

Um outro trecho, uma pequena parte da conversa entre o alquimista e sua contrapartida feminina, é algo muito intenso e de profundidade psicológica:

“— Meu Deus, o que está acontecendo comigo? — prosseguiu ela. — Estou de um jeito que o bem que você me traz me fere e, ao mesmo tempo, o bem despertado é um traidor dentro de mim, fazendo as maiores revoluções e cometendo os maiores perjúrios do que sou e prometi a mim mesma. Eu não sou tão forte como possa imaginar, Alexander. Meu Deus, estou febril. Você não tem ideia do que estou vivendo. Uma ebulição que não sei como terminará. Devo ser sincera. Tenho medo, sinto as pernas fraquejar... e um prazer diferente nascer. Estou me partindo ao meio como se a própria vida tivesse uma satisfação nisso. Sinto ela como um animal selvagem me rondando, justamente quando me vejo perdida. Não sei se quero isso, ainda que seja arrebatador o momento, é estranho. Não sei se conseguiria ser inteira no que me propõe. E mesmo se não estou me traindo.  Não posso ir além disso, entende? — disse Penélope com toda a sinceridade do seu coração.

— Gosto de sua autenticidade, Penélope. Sempre gostei — afirmou o alquimista.

Ela sorriu.

— Tenho consciência de que este encontro não se deu por sua vontade. Assim, vejo-me obrigado a acolher seus sentimentos, todos eles. Digo, até mesmo a ter simpatia e compaixão, ainda que eu seja arremessado contra a muralha da desesperança. Contudo, nem por isso posso deixar de testá-la adequadamente para uma certa visão das coisas ou de novas possibilidades, vivências. Dou minha palavra, jamais para uma escolha forçada. Nunca passaria por mim tal ideia. Seria até capaz de admirar o que fosse irreverente aos meus interesses mais profundos, como estar definitivamente longe de mim e distante do meu coração. Nunca poderia aprisionar um pássaro ferido, prefiro ser a sombra de uma lágrima vista por ninguém ou tocada no silêncio por um anjo que se veste da solidão de mil anos — argumentou ele.

— Você adentra mais profundamente em mim, sem piedade, dizendo essas coisas dolorosamente belas. Estou sem defesa e arrasada, pois sei que é verdade tudo que tem dito. Como me encontrou desse jeito, manifestando tal força de sentimento? Ninguém o fez, ninguém assim me tocou. Nem eu mesma sei se o fiz. Quão violentamente doces são suas palavras que agora me torturam de prazer e dor. Você não sabe o que está fazendo, arranca de mim a mim mesma. É um estado de fúria de sentimentos que me rouba certos valores, certos entendimentos tão familiares e duramente conquistados. Como se você entrasse em mim, ou talvez já estivesse aqui dentro para incendiar um velho sol, adormecido nas entranhas de um paraíso perdido. Que coisa mais estranha se mover em meu ser com tanto viço. O que sinto aqui, Alexander, é como se me perdesse na beleza. Talvez eu não acredite mais nela. Talvez esteja diante de uma cética. Mas e agora, o que faço? Devo me trair? Sou apegada a tudo que construí fora e dentro de mim. Simplesmente, não estou pronta...” 

Escolhi esses trechos por uma singularidade, o sol. Já que o ponto alto de nossa jornada naquele espaço de Gramado, o Olivas, seria o espetáculo do pôr-do-sol nas montanhas. Bem, o velho sol do dia já estava arredio àquela hora, não ia permanecer por muito tempo. E já dava  alguns sinais de sua inquietação em direção às sombras por trás do imenso paredão. Esse estranho casamento gestaria logo mais a noite. De fato, todos aguardavam o espetáculo natural e o enlace definitivo do fim da tarde.  

As núpcias foram pronunciadas e dardejantes de beleza e força, perdendo-se na simetria da luz e das sombras, quando se espargiam raios avermelhados em tons cada vez mais rubros até a escuridão da noite. Diga-se,  foi um dia excepcionalmente claro, de céu límpido em que  céus e terras estavam unidas em suas potências, como uma silenciosa dádiva para todos ali. E foi. Naquele instante, eu parei, estava a meio caminho do restaurante local, caminho este enladeirado, que ainda não conhecia e fiz uma saudação ao sol e aquele dia.  

“Memento Mori”, veio-me ao espírito, termo em latim  que significa "lembre-se da morte". É uma lembrança para valorizar o presente, reconhecendo a brevidade da vida e buscando significado e propósito em nossas ações. É uma chamada para viver de forma consciente e intencional,  e aproveitar cada instante.

 E algo como agradecer a vivência ali, o presente dado, tanto da instância humana como do mundo natural. Assim, meu obrigado a Secretaria de Saúde de Gramado, e a todos envolvidos no programa, pelo presente.

De um ponto de vista do conhecimento psicológico,  revisitei Freud, quando ele fala sobre a morte, o sol havia se posto por trás da muralha montanhosa, havendo resquício da luz e uma sobrevida do sol em seu espírito luminoso. Mas aquilo também ia findar. Freud, diz que nós seres humanos inconscientemente acreditamos ser imortais, e damos desculpas, que o “exsanguis rigiditas”,  o rigor mortis é por causa das doenças, acidentes, velhice e etc.  E não por uma necessidade natural.

 A consciência da finitude deveria nos dotar  de maior intensidade, responsabilidade e maturidade, inclusive no sentido de aproveitar a vida. Até porque o sol iria nascer no outro dia com toda força e presença. Assim sempre renascemos.

Mas enquanto estava refletindo sobre isso, e pensando nos processos de vida, pessoas, escolhas e eventos passados. O sol havia se posto com raios vermelhos até o negro, signos prementes da alquimia, Rubedo e Nigredo.

 Existe um ditado alquímico que diz, o que não torna negro não torna branco,  e vice-versa, ou seja, é preciso depurar nossas inconsistências até um grau de excelência. O ouro espiritual. No caso da alquimia, em várias operações seguidas. No fundo, é o que faz o cadinho existencial em nossos processos de vida.  

 É fato, quando fazemos essa limpeza interna, abrimos espaço para o crescimento, para o novo, o surpreendente, o amor próprio e a criação de uma vida mais satisfatória. Embora não seja fácil, é um passo relevante para alcançar a paz interior e construir um futuro mais consistente, e por que não, mais promissor.

Ficam aí essas reflexões, que podem servir. Para mim particularmente, presenciei dois esplendorosos espetáculos solares em menos de seis meses, um, o sol nascia de forma magistral sobre a cidade de Gramado, um manto dourado (texto do final de ano). E o outro, esse pôr-do-sol nas montanhas, que se não foi uma alquimia natural, resvalou na essencialidade das coisas maiores. Sei que para mim um ciclo se fechou, e outro se abriu! 


Carlos Costa França


P.S.: Ainda gostaria de partilhar uma outra reflexão e coincidência significativa, ao menos para mim. Descobri a coincidência no ato de uma resposta que tem relação intrínseca  com este texto.

No dia estava livre das amarras do cansaço, e isso sempre oferece um  perigo para um "textão", anunciei de cara...  e foi providencial...

"Sabe, sem o querer, acabo assaltando o tempo para eternidade, distraído como um mero aprendiz de feiticeiro. O que não é ruim. Porém, isso tem uma responsabilidade. Quando vi o sol vermelho se pôr, não compreendi o que já era inteiro,  completo de certa graça, pois era necessário processo, tempo, coragem, agir com o coração. Uma simples atitude,   agradecer, simplesmente agradecer!

Fui tomado por isso, assim, quase não tive mérito! Neste exato sentido de termos de praticar o agradecer.

Estava talvez ali como Luke skywalker, da saga Guerra nas Estrelas, quando via dois sóis se pondo em Tatoine (no meu caso, um nascia e outro estava se pondo, com certo delay, diga-se, mais que necessário! Seis meses de diferença), o começo de sua jornada mítica.  Uma das cenas mais icônicas do cinema."

E comentei: "e quer mais uma coincidência (acabei de descobrir) foi no dia 25 de maio de 1977  o início da saga, sua estreia, (dia do evento foi 25/05/2023). Puxa vida, sem palavras! Mil coisas para pensar, sentir e ser!"

Eu já tinha visto essa data antes,  em algum momento ao longo dos anos,  pode ter sido um processo inconsciente evidentemente, mas o fato é que não marquei o evento para o dia 25/05/23 e não lembrava de forma alguma da data... e nunca saberia se alguém me perguntasse livremente. 

Enfim.... e acrescentei: 

"Tudo isso traz um enlevo, mas não significa que  "tudo é lindo e maravilhoso". Não se trata disso, não existe isso. Devemos estar sempre ancorados na realidade, preparando-nos para os desafios da jornada. É isso que a jornada mítica nos diz.

Sei que um  coração que ama o segredo de si, pode  amar ainda mais a virtude da responsabilidade, inclusive, sentado no trono da razão,  buscando a justeza, e quase em desespero o equilíbrio das situações. Pois serve-se de princípios e valores que são estruturantes para a pessoa.

No entanto, devemos obedecer à verdade que encontrarmos, mesmo que ninguém a siga e mesmo que pareça desafiar nossa simpatia e nosso afeto pela razão; postura anterior e certa sanidade social. O reconhecimento dessa verdade é o que nos coloca em outro estágio, em outro momento de vida e tudo mais.


É isso, fique bem!

Carlos Costa França

01/06/2023

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