REFLEXÕES DE FINAL DE ANO, Entre a Sombra do Ser e a Sombra do Vento.

 



Sombras do Vento

Em um determinado dia, com um chimarrão fumegante na mão, encontrava-me absorto na varanda, contemplando as árvores no quintal da residência vizinha. Sentado no meu lugar favorito da casa, olhei para cima e, de repente, o cinturão de Órion, conhecido como as Três Marias, Mintaka, Alnilan e Alnitaka, gigantes azuis, se emoldurou entre galhos e ramos. Nunca tinha acontecido antes. Surpreendi-me.

Nasci com essa constelação surgindo no horizonte contígua a constelação de Gêmeos. Na acolhedora escuridão, as estrelas tornaram-se verbos poéticos.

No entanto, a atmosfera começou a metamorfosear-se com certa pressa; nuvens se aglomeraram e, em breve, uma tempestade faria sua entrada definitiva. Enquanto eu ainda contemplava esse espetáculo climático evoluir para uma magnífica dança de elementos, minha mente divagava para além da tempestade física...

Uma tempestade em mim e por mim se revestia de potência. O tempo fluía sem os segredos inerentes. Parecia mover-se com os ventos, corpóreo e veemente. A tempestade, com sua imponência e energia, encenava momentos de transformação e dualidade intrínseca à existência.

Nesse momento, de uma forma enviesada, lembrei-me de um filme, "Drácula: Uma História Nunca Contada", que, aliás, não recomendo. Contudo, a última cena apresenta um poema de Rumi, quando Drácula se encontra com Mina.

Rumi, ou Jalalad-Din Muhammad Rumi, poeta, jurista, teólogo islâmico e místico persa do século XIII, nas últimas décadas,  bastante prestigiado nos Estado Unidos, disse: "Não pense separadamente nesta e na próxima vida, pois uma dá para a outra a partida... O tempo é sempre curto demais para quem precisa dele, só que para os amantes ele dura pra sempre."

Logo a noite tempestuosa assumiu seu matiz mais profundo, transformando-se em um cenário voluntarioso e imponente, propício para reflexões estéticas e filosóficas ou até mesmo espirituais... mais custosas. E mais favores poéticos me foram concedidos... Fernando Pessoa.

“As nuvens são sombrias

Mas, nos lados do sul,

Um bocado do céu

É tristemente azul.

Assim, no pensamento,

Sem haver solução,

Há um bocado que lembra

Que existe o coração.

E esse bocado é que é

A verdade que está

A ser beleza eterna

Para além do que há”

No geral, o poema destaca a capacidade do pensamento e do coração de encontrar beleza e significado mesmo em meio às nuvens sombrias da vida, enfatizando a importância da perspectiva e da resiliência emocional.

Diante e em meio a esse constante fluxo do bardo tempestuoso, aproveitei para  refletir sobre o ano que se despedia, consciente de que cada adeus é simultaneamente um novo começo. O que se esvai no horizonte do passado abre espaço para o inexplorado, para o potencial que aguarda ser desvendado, trilhado e ousado.

Uma vez escrevi:

“Mistérios de uma inspiração

Sem exceção, caminhámos todos na orla do tempo, e, por vezes, distraídos colocamos os pés no mar do acaso.

O que nos garante alguma aventura e uma possibilidade real de tocar o novo da vida. Nem todos estão atentos, nem todos acreditam, nem todos se arriscam.

Porém, a mais simples evidência do mistério pode nos arrebatar mesmo se somos bem novinhos.

Dizer que o pensamento mágico, espiritual, filosófico segue o amor é extremamente superficial. É o mais perfeito casamento.

E isso nos coloca num caminho extraordinário, embora cheios de obstáculos a serem vencidos.

Naturalmente ganhámos força e entramos no ritmo e nas aparências da sociedade que é uma teia difícil, pouco sensível e relativamente hostil ao diferente. Estou sendo educado…”

Concentrei-me no que aconteceu nas promessas desse ano de 2023, algumas insustentáveis. Apaziguadas no possível. Asas  que foram dadas, e outras que foram cortadas ao longo dos imprevisíveis fios invisíveis da vida, dos acontecimentos e das pessoas. No entanto, se ainda conseguimos voar, está feito. Está tudo bem.

Neste ano, descobri uma nova faceta profissional para mim: “Mordomo de Gatos”. Além disso, concluí finalmente minha obra, "Os Gatos de Alfheim – Gramado Terras Altas", marcando não apenas o término de um livro, mas o início de uma nova jornada de saga e lenda. Este livro, agora disponível na Amazon, sua história se desenvolve em uma narrativa de 268 páginas.

A princípio, almejava uma extensão mais comedida, porém, como todo escritor sabe, a narrativa tece seu próprio destino de forma intrínseca ao autor. E lá, na narrativa mesmo, eles se entendem e se reconhecem. É a vida de escritor, fazer o que, né!

Como talvez meu personagem, o saci Quiabo, ao se deparar com o Curupira:

"Saci, tu chegas na surdina que até as folhas embaixo dos teus pés ficam de bico fechado, o vento te faz uma moral, contornando-o, e até as árvores, minhas parceiras, fazem mistério contigo, como se tu tivesses um disfarce de tronco e folhagem, te tornando camuflado ou invisível aos meus olhos, que veem tudo. Que truque tu escondes embaixo desse gorro vermelho que até deixa o Curupira de queixo caído?”

 “(...) se cheguei aqui, não foi por minha vontade, nem intenção, seguia uma borboleta campoleta (com risco de extinção no Sul do Brasil) que de mim precisava de atenção e cuidado. Não lhe surpreendi, portanto, surpreendemo-nos!”

Atualmente, já percebo que essa história servirá como ponto de partida para uma saga mais abrangente, incluindo até mesmo um oráculo com os personagens do livro. Por curiosidade, pintei um quadro em óleo sobre tela, retratando uma cena do livro "O Mundo das Fadas" antes mesmo de terminar a escrita. A imagem veio primeiro, antes das palavras.

Estou animado com esse novo caminho e projeto literário que abraçou meus esforços. Assim, processos se iniciaram, outros se encerraram nem sempre cautelosos e tranquilos... talvez temendo o destino.

Perdoem-me, o destino não, mas  temendo o próprio homem. Édipo diante da Esfinge... que vence o monstro terrível, que se torna um rei. Édipo, símbolo arquetípico do homem, que transcende as barreiras materiais, mas encontra sua verdadeira batalha na necessidade premente de desvendar a si mesmo — esse é o desafio primordial.

A poetisa brasileira, Cora Coralina, mesmo nas amarras de seu cotidiano, ousou impregnar-se de fragrâncias poéticas, viço e visgo com uma simplicidade cativante. Ela nos aponta talvez um refúgio para descansar, um espaço onde podemos investigar nossa essência e nos reconstruir por meio de atos simples.

Sua poesia parece convidar a um mergulho introspectivo, a uma jornada interior em que gestos despretensiosos se transformam em pontes para a autodescoberta e realização existencial. 

“Aninha e Suas Pedras

    Não te deixes destruir…

    Ajuntando novas pedras

    e construindo novos poemas.

    Recria tua vida, sempre, sempre.

    Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

    Faz de tua vida mesquinha

    um poema.

    E viverás no coração dos jovens

    e na memória das gerações que hão de vir.

    Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

    Toma a tua parte.

    Vem a estas páginas

    e não entraves seu uso

    aos que têm sede”.

Todas essas experiências desdobram-se simultaneamente, como um mergulho "In media res", no âmago da batalha que é a vida. Em meio às lutas e desafios, revela-se o verdadeiro trabalho interior, onde a jornada de autorreflexão e autoconhecimento torna-se a iniciativa natural. E por que não poetizar a vida, viver em essencialidade, como nos inspira a mestra Cora Coralina?

É inegável que o ciclo da vida e do cotidiano desdobra-se com suas complexidades, às vezes de maneira peculiar, dolorosa e evasiva. Por outro lado, existem momentos de serenidade, delicadeza e prazer que frequentemente passam despercebidos. Ou como  observou John Dryden, poeta e ensaísta inglês do século XVII, "A felicidade que o homem pode alcançar não está no prazer, mas no descanso da dor." Uma perspectiva intrigante, não é mesmo?

Diversas situações podem compartilhar semelhanças, enquanto outras revelam nuances inéditas, desafiadoras ou enriquecedoras. Contudo, o tempo, em sua dança perpétua, entrelaça seus fios, conectando passado, presente e futuro em uma promessa contínua.

 Dentro desse cenário, é benéfico libertar-se, inclusive do presente, desprendendo-se de âncoras, especialmente se estas se mostrarem excessivamente pesadas. Essa liberdade proporciona um espaço para a renovação e a descoberta de novas perspectivas em nossa jornada vital.

 

 

Sombras do Ser

Em uma conversa com meu filho mais novo neste final de ano, ele trouxe à tona a lembrança do falecimento de um tio, ocorrido exatamente nesta época devido à COVID. De maneira natural, compartilhei que o espírito do tio estava em seu processo e bem, embora minhas palavras refletissem mais o que eu sentia do que uma escuta atenta.

Além disso, comentei sobre os desafios que enfrentamos durante essa pandemia e enfatizei como é crucial cultivar a gratidão, especialmente em um momento em que geralmente não valorizamos tanto isso. O agora!

Meu filho, por sua vez, ansiava por expressar algo significativo. Enquanto compartilhava suas emoções em relação ao tio, eu refletia sobre a abrangente tristeza que muitas pessoas enfrentam durante as festividades de fim de ano. Ele trouxe-me notícias de guerras e do conflito global (As guerras não cessam no mundo, o que é lamentável no sentido mais amplo da barbárie humana).

Ele indagou sobre os ciclos míticos arturianos, questionando se Arthur, o rei lendário, retornaria, dado que a lenda afirma que quando o mundo precisar dele, ele voltará. Arthur é um rei que transcende a morte, um rei que foi, é, e sempre será. Diz-se que ele repousa em um sono mágico, esperando ser chamado pelos seus leais cavaleiros da Távola Redonda. Diante da angústia do meu filho, ele explorava o mito por trás dessa lenda.

Contudo, eu o tranquilizei, explicando que não é um mundo exterior que devemos esperar mudar ou esperar por salvadores “wwwwwwwww” (essas letras dáblius, “Vê” duplo, “uma dupla verdade?” Esta é uma contribuição do felino Ônix, resolvi deixar. Ele veio para meu ombro enquanto escrevia, chamo-o nessas condições de “papagaio Antuérpio”, ficou quieto por um tempo, depois pulou sobre o teclado e foi para janela observar o amanhecer do dia).



Mas continuando... falei para meu filho  que   somos nós mesmos que devemos promover essa mudança no interno. No ciclo arturiano, Arthur representa o aspecto espiritual, razão pela qual nunca morre.

Ele parte gravemente ferido para Avalon, onde permanece, pois o espiritual, sendo parte do eterno, perpetua-se. Embora não tenha aprofundado esses detalhes com ele naquele momento, busquei transmitir a ideia de que essa imortalidade espiritual reside dentro de cada um de nós.

Já a tristeza que muitos experimentam no final do ano, em grande medida, é resultado das mudanças nas dinâmicas familiares, da ausência de entes queridos, do agravamento de conflitos, de separações de diversos tipos e das transformações que naturalmente ocorrem ao longo do tempo na vida pessoal.

Além disso, é uma prática comum concentrar-se nas metas não alcançadas ao longo do ano, negligenciando as conquistas, que, na verdade, são as mais importantes. Igualmente notável é a tendência de direcionar a atenção para os aspectos negativos dos eventos, deixando de lado as oportunidades de crescimento e aprendizado que podem estar presentes.

Posteriormente, diante da minha acolhida tangencial, meu filho revelou a verdadeira ou a principal origem de sua tristeza: seu primo não tinha mais um pai. Ao compreender isso, abandonei imediatamente o paleolítico emocional, tornando-me totalmente sensível à situação. Voltei-me para e com ele, reconhecendo a genuína razão de sua melancolia: o temor da dor do outro que ecoava dentro dele.

Permaneci ao lado dele, buscando transmitir tranquilidade diante dessas questões existenciais e da angústia que o envolvia. Não lhe disse que não podemos escapar sempre das angústias, pois elas são inerentes à condição humana, mas apontei para a possibilidade de suavização por meio da contemplação e da espiritualização, que não necessariamente precisa ser religiosa, podendo manifestar-se na estética, na arte ou na filosofia.

Essa tranquilidade surge ao aquietar os pensamentos e se conectar de maneira mais sensível com o entorno, gerando uma calma interior.

Nesses momentos, o sofrimento humano se manifesta, revelando-se característico, quase como uma sinfonia trágica. Contudo, em meio a essa contemplação, pode emergir a força da fé, um elemento transcendental capaz de iluminar as trevas e oferecer um sentido mais amplo aos ciclos da existência ao desamparo humano.

Ou como já escrevi certa feita, poeticamente:

Sementeira — “A terra sombria e alquímica da psique, geradora de todas as coisas, tece no mistério e no visível mundo uma profusão de significados na história de cada ser. O rio de sentimentos que atravessa as planícies férteis dos envolvimentos expressivos deságua no oceano cataclísmico de mundos concretos e sonhados, por vezes tão desejados e negados, transformando a realidade em um tecido frágil e em um grito silencioso.

Mesmo diante da natureza efêmera das coisas criadas, a luz quintessencial irradia intensamente em lapsos de contingências, destinos, acasos e sincronismos.

No entanto, quando a falta de esperança paira sobre o abismo, o grande pássaro da alma abre suas asas em um voo legítimo. Nesse momento, os sonhos esquecidos velam pelo destino, mas não pela própria esperança, pois ela é um pássaro de outra espécie, é semente da solidão da fé. Dessa forma, as vozes da montanha que enamora do abismo buscam alívio.”

Evidentemente tudo depende da gente como atores e agentes de nossas vidas. Carl G. Yung, renomado teórico e psicólogo, dizia o que não tornarmos conscientes, chamaremos de destino (e aqui destino não significa nada favorável), por isso sempre busquemos a consciência de nossas vidas, atitudes  e escolhas.

A autoconsciência é a chave para compreender a vida e o ambiente ao nosso redor. Ao longo deste ano, observei em muitos pacientes dificuldades em lidar com suas relações, principalmente em situações tóxicas.

É como se diz por aí, muitos ainda não perceberam que inevitavelmente desempenharemos o papel de vilões na narrativa de outros, independentemente de nossas ações passadas, presentes ou futuras. Essa consciência é fundamental para promover interações mais saudáveis e maduras para o próprio crescimento pessoal.

Do meu ponto de vista, sigo a filosofia e a política de não sobrecarregar o anjo da guarda!

Certamente, é inegável que algumas pessoas já não fazem parte de nossas vidas, seja porque partiram fisicamente, desvaneceram-se da realidade, ou mesmo porque se ausentaram de nosso íntimo sem se afastarem fisicamente. Há também aquelas que nunca estiveram presentes e possivelmente nunca estarão. E está tudo certo, normal e que bom que seja assim!

Por outro lado, existem aquelas que sempre estiveram ao nosso lado e permanecerão, ainda que desertos tenhamos atravessados. Assim como aquelas que estão conosco no presente momento, se observarmos com atenção. Que podem ir do horizonte sem nome ao nosso coração, ou simplesmente nascem como nascemos para outras pessoas com a vocação do pôr-do-sol.

Até porque tudo muda, e como nos lembra Fernando Pessoa, "Partir! Nunca voltarei. Nunca voltarei porque nunca se volta. O lugar que se volta é sempre outro..." Cada partida, cada ciclo encerrado, nos conduz a um destino desconhecido. E está tudo bem!

A jornada da vida é uma constante evolução, um ciclo ininterrupto que nos transforma à medida que avançamos. Cada experiência acumulada atua como um escultor, moldando nossas percepções e alterando a paisagem da nossa existência. Em meio a essa trajetória, é imperativo pausar e refletir sobre nossa posição nessa jornada dinâmica, avaliando a direção em que estamos seguindo e considerando as ações necessárias para alcançar nossos objetivos.

Compreender a natureza transitória da vida e a explorar o potencial transformador de nossas escolhas. Ao fazer isso, podemos não apenas entender melhor nosso propósito, mas também moldar ativamente o curso de nossa jornada, alinhando-nos com a promessa que fazermos a nós mesmos em nosso propósito de vida. Sadhguru, filósofo e místico indiano no diz:

A vida acontece assim, "Ser", "Fazer" e "Ter". Primeiro "Ser", depois "Fazer", depois "Ter" é assim que a vida acontece. Mas seu problema é, primeiro você quer aquilo, então você fará isso e se tornará isso. Se você tentar fazer a vida de forma inversa, o sofrimento é inevitável, não importa que você tenha boas intenções, ainda assim, você sofrerá. Você verá pessoas com boas intenções parecendo estar sofrendo mais do que pessoas com más intenções. Você já percebeu isso? Porque você está tentando lidar com a vida de forma invertida. Não vai funcionar. Você aprende a estar de uma certa maneira, então você terá certas coisas e certas coisas acontecerão a partir disso.

Ou seja, o filósofo indiano, destaca a importância de alinhar ações com a verdadeira essência e valores internos. A mensagem central é que a autenticidade e a congruência entre ser, fazer e ter são essenciais para uma vida satisfatória e significativa. É isso.

Aqui, gente, sinto muito, mas preciso fazer uma breve, brevíssima, introdução teórica para proporcionar uma compreensão mais aprofundada deste trecho do Sadhguru, que, aliás, recomendo muito seguir nas redes sociais. E ele é realmente muito bom!

Carl Gustav Jung, um renomado psiquiatra e psicólogo suíço, introduziu o conceito de individuação como parte central de sua teoria psicológica. A individuação refere-se ao processo de desenvolvimento psicológico no qual uma pessoa se torna a expressão mais completa e única de si mesma.

Autoconhecimento: A individuação envolve a exploração e compreensão profunda do self. Isso inclui a identificação e integração de partes inconscientes da psique, como conteúdos pessoais e coletivos (arquétipos).

Equilíbrio entre opostos: Jung enfatizou a importância de integrar polaridades dentro da psique. Isso inclui reconhecer e aceitar tanto os aspectos positivos quanto os negativos de si mesmo, buscando um equilíbrio psicológico.

Desenvolvimento da personalidade única: A individuação não visa conformar-se a padrões externos, mas sim permitir que a personalidade única de cada indivíduo se desenvolva plenamente. Isso implica aceitar e abraçar as características individuais que tornam uma pessoa única.

Na individuação de Jung, a consciência do inconsciente coletivo implica entender e incorporar padrões simbólicos universais nas culturas. Por exemplo, o arquétipo do "pai" ou "velho sábio" precisa ser integrado, incluindo seus aspectos sombrios, para evitar transformações negativas. Se não for feita essa integração, há o risco de manifestações coletivas prejudiciais, como seguir líderes inescrupulosos, comparável a uma trajetória semelhante à de “Darth Vader” da saga “STAR WARS”.

Crescimento contínuo: A individuação é vista como um processo ao longo da vida. Não é um destino final, mas sim uma jornada contínua de desenvolvimento pessoal e espiritual.

Relação com os outros: Embora seja um processo individual, a individuação não ocorre em isolamento. As relações interpessoais desempenham um papel fundamental no processo, pois interações significativas e desafios relacionais contribuem para o crescimento e a evolução individuais.

Recentemente também, deparei-me com uma notícia preocupante: o aumento significativo de suicídios entre jovens, diretamente relacionado ao impacto das redes sociais. As preocupações excessivas com imagem e carência humana costumam ser negligenciadas. Raramente se explora a necessidade profunda de conexão consigo mesmo, especialmente no contexto virtual, que, embora traga benefícios, apresenta desafios.

As redes sociais oferecem dualidade: possibilitam conexões valiosas, mas instigam padrões de comparação que distorcem a realidade. Estabelecer uma clara distinção entre autenticidade e personas online é crucial. A verdadeira fonte de felicidade reside em nós mesmos. Sei que isso é repetido.

Destaco a importância de saborear a vida através da conexão consigo mesmo. Compreender a integridade interior, mesmo diante de falhas, é crucial. Diante de jovens tomando decisões drásticas, ressalta-se a urgência de preservar a integridade emocional, cultivando autenticidade e autoaceitação.

Repensar a interação com as redes sociais, especialmente para jovens, destacando a autenticidade, acredito ser vital. Reconhecer a capacidade de ser a melhor companhia própria e resguardar a integridade emocional são fundamentais para enfrentar desafios contemporâneos, promovendo uma saúde mental duradoura. Vamos a um remédio literário, que aliás, serve para qualquer um, sem efeitos colaterais, Lewis Carroll, Alice No País Das Maravilhas:

“Amas-me? Perguntou Alice.

Não, não te amo! Respondeu o Coelho Branco.

 Alice franziu a testa e juntou as mãos como fazia sempre que se sentia ferida.

 Vês? Retorquiu o Coelho Branco.

 Agora vais começar a perguntar-te o que te torna tão imperfeita e o que fizeste de mal para que eu não consiga amar-te pelo menos um pouco.

 Sabes, é por esta razão que não te posso amar. Nem sempre serás amada Alice, haverá dias em que os outros estarão cansados e aborrecidos com a vida, terão a cabeça nas nuvens e irão magoar-te.

Porque as pessoas são assim, de algum modo sempre acabam por ferir os sentimentos uns dos outros, seja por descuido, incompreensão ou conflitos consigo mesmos.

Se tu não te amares, ao menos um pouco, se não crias uma couraça de amor próprio e de felicidade ao redor do teu Coração, os débeis dissabores causados pelos outros tornar-se-ão letais e destruir-te-ão.

A primeira vez que te vi fiz um pacto comigo mesmo: "Evitarei amar-te até aprenderes a amar-te a ti mesma!"

E por fim, envolto nesse devaneio, também encontrei-me ocupado com a cidade de Gramado, uma cidade que, como metáfora da vida, apresenta estações bem definidas, com suas belezas e desafios singulares. Encantada, ela me encanta. Cada detalhe se transforma em um convite à contemplação, uma oportunidade para mergulhar nas forças da existência e da natureza, extraindo significado das nuances do cotidiano. É um privilégio e uma fonte inesgotável de inspiração. Não resisti em prestar-lhe homenagem também em meu último livro, "Os Gatos de Alfheim — Gramado Terras Altas".

“De uma imensa árvore, embora não tão alta, notaram que havia um edifício entre as raízes, que era em continuidade com o próprio tronco,  e mesmo se confundia com ele. Tinha os telhados tortos e as portas eram inclinadas, com formato de folhas. E descobriram numa parte mais lateral do “edifício árvore”,  que havia uma espécie de balcão e com várias placas indicativas. Porém uma chamava mais atenção. Estava  bem no alto, segurada por duas robustas cordas, que desciam retesadas,  com os dizeres “Gramado, Terras Altas, fundada há três milênios da era comum  no tempo dos herdeiros de Yggridasil, raio de Asgard e esperança de Midgard”.

Pois, afinal, na interseção entre as águas, as árvores e os astros, desenha-se um quadro que transcende a mera observação, convidando-nos a refletir sobre a natureza intensa da vida, entregar-se ao momento, viver o essencial e a eterna busca por compreensão. De toda sorte,  estou  como o ar nas terras altas, passeando entre pensamentos ainda não originais, vivendo minhas ventanias, querendo saber onde elas querem chegar...

Carlos Costa França

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