Um anjo solitário e virgem flutuava nas arenas impenetráveis da noite como sombra e luz, porém se feriu pelo dilúvio das sensações vivas ali presente. A primeira coisa a ser notada foi uma lei que aprendera há muito, uma certa irresistibilidade diante do homem. Algo inteiramente novo para ele.

Mas o que lhe chamou mesmo a atenção foi a paixão humana e seus efeitos avassaladores. Então, ele constituído de uma matéria silente, invulnerável e eterna se fez atuar sobre a criatura carnal e dualista para auxiliá-lo. Sua voz como o canto de um pássaro raro e passageiro logo mergulhou no sono e na passividade de uma lembrança tênue. Não funcionou.

As sombras pardacentas daquela personalidade humana, como um muro intransponível, resistiram-lhe. Uma escuridão maior do que a da noite sobrepôs a qualquer ação angelical. Mesmo assim, em quase todas as direções se travou uma batalha descontínua e intolerável, por um tempo que o ser etéreo chamou de agora e o homem de uma vida.

Quando a alma humana desabrochada e movida por uma nova e maior consciência, já tendo circundando o abismo incandescente das tribulações, questionou:

"Tu me ajudaste, anjo?"

Este respondeu:

"Não consegui. Contudo, testemunhei algo importante: o extraordinário que há em ti o cozinhou no fogo de tuas próprias paixões até que os vapores ebúrneos do bom senso aparecessem."

O autor

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